quarta-feira, 4 de março de 2009

1- Adaptação.

Meninas, como prometido aqui vão algumas palavras de como esta sendo minha vida a 3.000 km de vocês.
Se eu pudesse ter imaginado meu futuro, ele não seria precisamente assim. Para ser franca, está sendo exatamente como eu não pensava que seria. Aqui estou em Chapinheiro, um lugarzinho encharcado, com pouco mais de 7 mil habitantes e um intenso trafego de charretes.
Até ontem me perguntava se havia valido a pena minha tentativa retardada de abandonar minha vida e vir para cá. Hoje eu tenho certeza que não valeu.
Há quem diga que esse lugar não é de todo ruim, realmente não é para quem adora chuva todo dia, mato, fofocas e tem um forte afeto por coisas velhas.
Tinha toda liberdade na casa da minha mãe, e achava pouco. Festas, rock’s, as pessoas que eu mais amo, garotos... ah, os garotos, como se desse para esquecer... foram tantos rolos, tantas confusões, tanta raiva que eu passei por causa deles. Pelo que me lembre não tive nenhum relacionamento tranqüilo, e olha que não foram poucos. Todas vocês adoravam o jeito como eu me relacionava com os garotos. Para mim funcionava perfeitamente o termo fogo de palha. Em um dia me dizia a mais apaixonada das criaturas - Por Deus, não sei como você me agüentava falando deles – já no outro não fazia questão de lembrar o nome.
Confesso que algumas vezes sofria muito mais com o fim de certos relacionamentos do que parecia, afinal, já havia criado a imagem de durona e não queria perder meu posto. Fui criando pequenos truques que não me deixavam por baixo – Sim, quando eu sentia que alguns dos meus casinhos não estavam dando certo e que a pessoa ia terminar, eu ia e terminava antes.
Meus planos eram passar as férias aqui e em fevereiro iniciar minha faculdade de odontologia em Soroca – Você não esta enganada, eu ainda odeio sangue e não sei nada de biologia. – Lá eu seguiria minha vida de Cálido. A chuva levou embora metade dos meus planos e esperanças. Sem grana liberada, totalmente sem festas e com muito sermão.
Já morei aqui antes e com certeza essa não é a melhor lembrança que eu tinha daqui. Talvez tenha sido um delírio pensar que isso já foi melhor.
Meu pai, Augusto, sinceramente se esforça para que eu me sinta bem. Mas seus 38 anos a mais que eu talvez empeça algumas coisas. Ele é do tipo conservador que se acha liberal e tenta me ajudar em tudo – mesmo quando eu não preciso de ajuda. – Alto, magro e com a idade na raiz dos cabelos, faz de tudo para nos ver felizes, mas esquece por segundos que o que é bom para ele nem sempre nos agrada. Eu não passaria a semana falando de futebol para me divertir.
Eu sei, me lembro diariamente de você me ensinando a usar o auto controle, e te garanto que isso não poderia ter sido mais útil. Ainda mais agora que meu pai escolheu minha companheira de apartamento. A menina nem tem muita culpa, mas o momento que ela apareceu na minha vida não foi o melhor. A mãe dela é uma beata nata e perto dela a Geovana se comporta como tal, mas algo me diz que atrás daquele sorrisinho recatado e falsamente simpático se esconde uma outra vida.
Acredita que a Lucrecia, mãe da Geovona me disse “Você não vai poder trazer suas amigas aqui, a não ser que seja da igreja.” Mesmo que eu não acredite que vou fazer grandes amizades por la isso me deixou aborrecida. Quero só ver.